quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Homenagem do Rafael para seus pais

Queridos pais,

Escolhendo as fotos para a formatura, senti que deveria escrever alguma coisa para vocês. Isso porque como sabem, não teremos direito a agradecer no microfone, e tenho certeza que vocês merecem algo mais pessoal do que a cerimônia tem a oferecer. Ao escolher as fotos, mesmo sem ter acesso a todas que temos, senti muita dificuldade em botar apenas algumas na homenagem. Não parecia justo. Então resolvi preparar esta singela homenagem.
Vendo as fotos me lembrei de quando eu era criança. Não sei se tenho uma memória tão boa, ou se é por causa dos vídeos, da “novela do Faél”, mas sei que minha infância ficou gravada em mim como uma época de muita felicidade e aprendizado. Penso no meu tempo de piá, e vejo um guri cru, inocente, que não sabia de nada. Afinal, não são assim todas as crianças? Talvez. Não posso afirmar com certeza, pois só fui criança uma vez, e sei que eu era assim. Lembro de como era chorão, como me deixava afetar por tanta coisa. E chorava. Por tudo. E lembro que sempre tive vocês do meu lado, ora me confortando, ora rindo destas situações. As vezes que ficavam bravos, nem me lembro. Devem ter sido tão poucas que minha memória não registrou. Minha infância foi aquela que desejo a meus filhos.
Pois aquele guri manhento e chorão foi crescendo... Foi criando mais consciência das coisas da vida. Mesmo que bem devagar, mas foi. E ainda era chorão. Só que desta vez, tinha vergonha de o ser. E uma vergonha justificada, afinal já havia crescido um tanto! Isso não importava para vocês. Com a paciência que só vocês podem ter, aos poucos foram me ensinando a me tornar um homem. Por mais que eu não soubesse à época, estava assimilando tudo e formando meu caráter. Não é a toa que, em todas as escolinhas, creches, colégios, faculdade e o escambáu, fui tido como o “animador” da turma, o palhaço, que estava sempre rindo e fazendo brincadeiras para os outros rirem. Eu agia assim porque vocês, lá no início, me deram toda a felicidade que eu podia ter.
Chegando a adolescência, passei por todos os problemas que os adolescentes passam. Mas não me sentia como eles. A família pra mim, sempre foi muito forte. Tinha em vocês meu porto seguro, por mais que talvez nunca tenha dito em ocasião alguma. Eu não precisava falar. Bastava me sentir seguro, simplesmente. Egoísta de minha parte não compartilhar com vocês, não é mesmo? Bom, mas eu era um adolescente, afinal. Dizem que todos são egoístas. Se são mesmo, não sei. Só fui adolescente uma vez...
Não sei ao certo em que ponto da minha vida tudo ficou mais claro para mim. Acho que na verdade é porque não existe um ponto ao certo. As coisas vão se esclarecendo conforme crescemos, conforme o tempo passa... Hoje sei que ainda tenho muito a evoluir como pessoa. Mas me sinto pronto para essas mudanças. Sinto-me assim por causa de vocês. Vocês me ensinaram tantos valores, tantas coisas, que talvez nem vocês mesmos se dêem conta disso. Hoje me sinto orgulhoso por ser a pessoa que sou, e foram vocês que formaram esta pessoa.
Mãe, te ver com o Daniel é como se eu olhasse por um espelho através do tempo. Lembro de todo carinho que tu me deste, das vezes em que me acordava como se eu fosse a pessoa mais especial do mundo. E de fato eu era naquele momento... A sensação era tal, que até hoje permanece comigo, quente como se tivesse acontecido há horas atrás. Só tu, como a mãe que és, me socorreu dos meus choros e mimos, brigou com tantas pessoas por fazerem teu filhinho chorar. Por mais que elas não tivessem culpa nenhuma. Mesmo há pouco tempo atrás, quando me surgiam problemas que eu não conseguia solucionar, quando me angustiava ao extremo, corri pra ti. Pois sei que teu coração não podia ser maior. Tu me ensinou a ter sensibilidade, a ter paixão e compaixão. A buscar com garra meus objetivos. Obrigado por tudo, mãe, por fazer eu me sentir tão querido. Uma vez tu me disseste: “Obrigada por ter me escolhido como tua mãe nesta encarnação”. Bom, não entendo muita coisa de reencarnação, mas se de fato te escolhi, foi porque tive a sorte de ser o primeiro da fila. E te escolheria todas as encarnações que pudesse.
Pai, lembra das vezes em que discutimos na minha adolescência? Aconteceram em “algumas várias” ocasiões. E te agradeço do fundo do coração por isso. Tu conseguiste transformar aquele piá chorão num homem. Tu me ensinou a ter orgulho das minhas origens, e orgulho por lutar por aquilo que se deseja. Deu-me força e inspiração muitas vezes sem precisar falar uma palavra. Teu jeito de agir, de ser, tua história, me são exemplo. Para lembrar uma ocasião específica, tenho uma que tenho certeza que tu não te recordas. Estava eu no sítio, com uns 12 anos, deitado no sofá doente. A porta abriu com o vento e eu não levantei para fechar, por mais frio que ficasse dentro de casa. Queria me fazer de coitado, de sofredor. E tu vieste e me xingou por isso. Disse que eu deveria ser mais forte que a doença. Que se quisesse, teria levantado e fechado a porta, e essa atitude me ajudaria a melhorar. Nunca me esqueci desse dia. Sempre procurei ser forte, para parecer tão forte quanto tu. Sempre procurei me superar, para chegar perto do que tu és para mim. Sei que tu tem consciência do orgulho que sinto de ti, e muitas das coisas que faço, o faço pra te inspirar orgulho do filho que tens. Obrigado por me fazer um homem de caráter, pai. Vou pelo resto da vida seguindo teu modelo.
Enfim, meus pais, se hoje sou alguém de valor, devo exclusivamente a vocês. Ensinaram-me a lutar. Sei que não falo isso com a freqüência que deveria, mas isso não diminui em nada a intensidade do meu amor por vocês. Sinto-me diferenciado simplesmente pelo fato de ter tido os pais que tenho. Meu orgulho, carinho e gratidão por vocês só aumenta a cada dia que passa. Vou me formar em algumas semanas, mas isso não é tão importante para mim. Vou receber o grau de Médico Veterinário. Grande coisa. A formação que realmente importa para mim é a que durou vinte e poucos anos para acontecer. Esta sim é a que mais me orgulha. Por isso, dedico a vocês, meus exemplos, não só a formatura de um profissional, mas sim a formação de um homem. Isto tudo só foi possível devido aos professores perfeitos que vocês foram.
Por um lado, foi até melhor não ter a oportunidade de falar no microfone durante a colação de grau. Eu jamais conseguiria falar metade disso que escrevi aqui. Isso se conseguisse passar pelas lágrimas, como estas que me vêm enquanto escrevo este texto para vocês. Ao que parece, ainda existe um pouco daquele gurizinho chorão dentro de mim. A diferença está na razão das lágrimas que caem hoje: Gratidão, orgulho, e muito amor pelos pais que tenho.
Obrigado por tudo, de coração! Amo vocês, mais do que qualquer coisa na vida. São os melhores e “mais queridos” pais que eu poderia ter.

Rafael Stortti Peruzzolo